31/08 e 01/09
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
UFPR | 19h | 31 de agosto de 2017
Profª Dra Talitha Ferraz
ESPM-Rio, GP Modos de Ver (ESPM-CNPq)
O que podem as memórias da ida ao cinema?
Estudos sobre históricos cinemas de rua e mobilizações de suas audiências
Rearranjos arquitetônicos, tecnológicos e mercadológicos das salas de exibição cinematográfica, além de reorientações de seus vínculos com os públicos, programações e espaços urbanos onde elas se inserem são eventos que atravessam toda a história da instituição cinema. Porém, com maior intensidade nas últimas duas, três décadas, as transformações da/na "sala de cinema", amiúde, têm se tornado pauta das agendas e discussões de variadas esferas, como, por exemplo, imprensa, organizações da sociedade civil e alguns domínios de pesquisa (cinema, estudos de mídia, história, arquitetura e urbanismo, sociologia etc). Essas instâncias, com recorrência, têm se dedicado à produção de diagnósticos, inventários e previsões acerca das trajetórias de vida e morte desses equipamentos em meio a macro e micro histórias de contextos urbanos e socioculturais, considerando a importância desses espaços na vida de seus frequentadores e comunidades.
Também não têm sido raros, no Brasil e no exterior, casos de mobilização das audiências em prol de icônicos cinemas de rua sob ameaça de desaparição. Engajados via fortes laços identitários e reunidos pela partilha de memórias das práticas de “ida ao cinema”, tais indivíduos clamam pela preservação e a reabertura das casas de exibição; obtêm, muitas vezes, resultados interessantes em termos de reativação desses equipamentos.
É diante deste horizonte que a palestra abordará questões ligadas a objetos de pesquisa e tópicos teóricos e metodológicos de investigações realizadas pela autora sob a perspectiva da New Cinema History. O enfoque será dado à memória da ida ao cinema, ou seja, modos como produzimos, compartilhamos e ativamos memórias e afetos ligados às nossas experiências como frequentadores de sala de cinema, tendo em vista aspectos de ordem cinematográfica e contextos socioculturais, políticos, urbanos, geográficos, comerciais etc aos quais o equipamento coletivo de exibição se conecta. A palestra tratará ainda das noções de "nostalgia ativa" e "instrumentalização da memória", eixos fundamentais nas pesquisas sobre as mobilizações das audiências nos casos dos cinemas Cine De Roma (Antuérpia, Bélgica), Cine Caixa Belas Artes (São Paulo), Cine Vaz Lobo (Rio de Janeiro) e do circuito exibidor Estação NET (Rio de Janeiro).
Conheça a palestrante:
Talitha Ferraz é jornalista formada pela PUC-Rio, mestre e doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ (ECO-UFRJ), com doutorado sanduíche pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal. Realizou pesquisa de pós-doutorado no Centre for Cinema and Media Studies da Ghent University (CIMS-UGent), Bélgica, com apoio da Capes. É professora na ESPM-Rio, onde coordena o GP Modos de Ver - Estudos das salas de cinema, exibição e audiências cinematográficas (ESPM-UFF/CNPq). Também é pesquisadora associada à Coordenação Interdisciplinar de Estudos Contemporâneos da ECO-UFRJ (CIEC/ECO-UFRJ) e ao Laboratório de Estudos de Memória Brasileira e Representação (LEMBRAR-ESPM). Faz parte ainda das redes de pesquisa International Media and Nostalgia Network (IMNN) e History of Moviegoing, Exhibition and Reception Network (Homer Network).
Acesso ao currículo lattes
Palestra de encerramento
UTP | 14h | 01 de setembro de 2017
Prof. Dr. Pedro Plaza Pinto
EICHMANN PERTO DEMAIS: FICÇÃO E IDENTIFICAÇÃO NOS LIMITES DA HISTORICIDADE
Abordagem das táticas da ficção do filme "Eichmann" (Robert Young, 2007), sobre como o material perde o relativo controle sobre o seu projeto declarado de apurar a experiência do funcionário de estado encarregado de interroga-lo acerca dos crimes contra judeus durante o nazismo no nascente Estado de Israel. O exame da narratividade, da sonoridade e do imaginário do filme nos conduz ao questionamento das formas de identificação destiladas a partir do encontro entre inquiridor e inquirido. O tempo histórico referido no drama íntimo do processo de garimpagem e confrontação de provas se estabelece desde o rapto de Eichmann, em 1960, na Argentina, e o curto epílogo após a sua morte pela pena capital, quando Avner Less envia a carta para a família do condenado e atende ao seu "último" pedido, em 1961, pouco após Eichmann ser enforcado. O relato havia criado um liame de identificação entre as famílias de ambos, com mútuas referências a esposas e filhos. O arcabouço do melodrama também situa o filme sob seu espectro relativo, afinal. Mas a intrusão de elementos de epicidade no bojo do relato - o rumor dos meios massivos de difusão, o fulgor da multidão - também sustentam um já perceptível desajuste entre programação intencional da narrativa pedagógica e a sua efetivação em termos de fluxo sonoro-visual e moralização em vícios e virtudes. Contudo, o interesse primordial do paulatino entrecortar de campos e contracampos entre Eichmann e Less está na contradição entre impulso de curiosidade e sentimento de repulsa do segundo pelo primeiro. Quanto da produção de subjetividades é sustentada pelo filme nesta aproximação e humanização de um criminoso de guerra que Arendt identificou como incapaz de falar algo que não fosse absolutamente convencional?
Texto indicado: Pedro Plaza Pinto. "Personagens e efeitos de ficção: uma narrativa entre olhares", publicado no livro "Eichmann em Jerusalém: 50 anos depois" (organização de Marion Brepohl, Curitiba: Editora UFPR, 2013)
Ministrante: Prof. Dr. Pedro Plaza Pinto
Professor no Departamento de História e no Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Goiás (2000), com mestrado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2003) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2008). Tem experiência em docência no ensino superior (UFF: estágio docência; UFG: Professor substituto; FAP (UNESPAR): professor substituto; Cambury: especialização), com ênfase em análise fílmica e estudos do cinema brasileiro - teoria e crítica. Atua principalmente na área de história, crítica e estética cinematográfica, teatro e literatura. Participou voluntariamente do projeto de descrição do Arquivo de Paulo Emilio Salles Gomes, na Cinemateca Brasileira (2005-2006).